sábado, 13 de agosto de 2011

Quando uma amiga se vai...

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Há mais ou menos 1 ano e meio publiquei um post sobre ela, Susi, uma vira-lata linda a quem me propusera a alimentar e tratar. Susi morreu atropelada sexta-feira, 30/06, na mesma avenida a que tantas vezes já atravessara.

Eu não vi, estava em férias, mas quem viu veio me contar. Foram várias as pessoas que me falaram dela. Muitas com o coração entristecido, pelo animalzinho e porque tinham certeza de que eu perdera uma amiga. E desde que eu soube, não consegui parar de pensar no quanto ela foi mais minha amiga do que eu dela.

Susi nunca teve um lar que a quisesse, mesmo com toda a docilidade e inteligência, nem mesmo pelos olhos "pidões" cor de caramelo, nem por aqueles cilinhos únicos que só ela podia ter (castanhos com pontas loiras, da mesma cor do pelo).

Mesmo tendo me comprometido, diminuí muito as vezes que levava comida para Susi depois que ela conseguiu uma vaga com direito a colchão debaixo do toldo de uma loja cujo dono sempre a tratou bem. Ela passou a ganhar comida também de uma vizinha e, com tantas refeições, estava começando a sobrar e a atrair outros cães, nem sempre amigáveis. Achei melhor deixá-la somente com a refeição da pessoa que estava mais perto. Foi conveniente, admiti já na época, afinal não precisava pegar o carro aos fins de semana só para levar-lhe o que comer e trocar a água.

A essa altura Susi conseguiu uma casinha de madeira. Tudo transcorria bem. Muitos vizinhos davam-lhe afagos, alguma atenção, companhia e petiscos. O que mais uma cachorra da rua poderia querer? Ela possuía por quintal a liberdade de todo o espaço ao ar livre, e era assim que parecia ser feliz. Não gostava de ver-se presa.

Certa vez comprei-lhe uma roupa de inverno. Paguei caro, era bem quentinha. Ao vestir nela, Susi me olhou sem levantar a cabeça. Não se mexeu. Em pé e na mesma postura em que estava quando lhe pus a roupa, ficou. Por longos minutos ela só piscava. A felicidade voltou a seu semblante quando me dei por vencida e lhe tirei o “gesso” que a imobilizava.

Tampouco suportava coleiras. Tive de levá-la ao veterinário uma vez em razão da patinha, e foi como se a coleira a paralisasse totalmente. Fugiu de mim por uma semana depois disso, magoada, imagino.

Meu horário de trabalho aumentou. Susi estava bem, não precisava tanto de mim, e eu podia me manter mais afastada. Mas nada era mais gostoso de ver do que a maneira como ela me olhava, ao reconhecer-me, mudando a postura, agitando a cauda amarela, abaixando para trás as duas orelhas de pastor alemão ou se atirando de barriga para cima como um filhote de...7 anos e 27 quilos, querendo carinho e coçadinha.

Havia outro temor que fazia com que eu me afastasse dela algumas vezes: ela sempre me seguia quando eu ia embora, e isso significava atravessar uma rua de duas mãos, sem farol e muito tráfego. A mesma rua em que perdeu a vida. Sentia medo por ela, talvez fosse pressentimento. Contentava-me em vê-la a distância. Contentava a mim mesma, mas privava-a da alegria de um carinho. Jeito egoísta de amar outro ser vivo, assim com satisfação unilateral...


Susi ainda estava sujinha, cheirava a cachorro sem banho, e não queria que ela saltasse sobre minhas roupas porque eu tinha longas horas de trabalho a cumprir, para fazê-lo com cheiro de cão molhado. (Quando foi que ela e toda a alegria que demonstrava ao me ver se tornou um inconveniente?).

Nas férias de julho pensei muito nela, mas não fui vê-la. Imaginava que estava bem. Convencia-me disso para me poupar, para preservar minha preguiça. Foram os últimos dias de Susi.

Ela não tinha um lar... me questiono se chegou a ter amigos de verdade... Tantos gostavam dela, mas ninguém soube amá-la a ponto de acolhê-la... Agora mesmo neste post estou sendo egoísta. Escrevo para desabafar, por me sentir culpada, porque "ela" não volta mais... Queria me esquecer dela, porque é triste demais não poder mudar o que acontenceu.

Queria muito esquecer, mas não consigo não lembrar...

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sábado, 28 de maio de 2011

só um pensamento...

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Se o amar é para fracos,
Quero morrer sem conseguir erguer com os dois braços
A bárbula de uma pena...


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