Gostava da cor do sangue em dias de cinza, do vermelho denso espremendo o sal por entre as pedras do soalho escuro. Fitou a esposa morta, nua e pálida, o frio azul no olhar de boneca tomando o ar com névoas e cristais. Crepúsculo de vozes no escorrer da manhã chamaram pelos últimos fregueses de uma feira-livre, que se decompunha. Odor forte de peixe, talvez o mar também cheirasse assim... Trovejantes e grossos os pés desabaram na chuva, golpeando sem pejo a boa terra das ruas. Na janela diante da qual se ajoelhara em silente contemplação, estalavam gotas de água, que ele sequer ouvia. As mãos apertaram ainda mais o punhal, e toda a natureza observada sucumbiu de encontro ao vidro.
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