Gostava da cor do sangue em dias de cinza, do vermelho denso espremendo o sal por entre as pedras do soalho escuro. Fitou a esposa morta, nua e pálida, o frio azul no olhar de boneca tomando o ar com névoas e cristais. Crepúsculo de vozes no escorrer da manhã chamaram pelos últimos fregueses de uma feira-livre, que se decompunha. Odor forte de peixe, talvez o mar também cheirasse assim... Trovejantes e grossos os pés desabaram na chuva, golpeando sem pejo a boa terra das ruas. Na janela diante da qual se ajoelhara em silente contemplação, estalavam gotas de água, que ele sequer ouvia. As mãos apertaram ainda mais o punhal, e toda a natureza observada sucumbiu de encontro ao vidro.
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3 comentários:
O que é isso minha gente !
A boa e velha Olga criando imagens que ficam prá nos fazer pensar.
Isso é parte de um conto ?
Beijos
Bem vinda de volta às letras, Olga... e que conto mais lindo de amor e extremos. A natureza em choque com os sentimentos. Curto, enxuto e denso.
Sady e Laura, obrigada pelos comentários. sempre carinhosos.
Sim, Sady originalmente era um conto que foi retalhado(perdão pela expressão) e por fim teve apenas um de seus pedaços aqui publicados.
Laura, obrigada por suas palavras e sempre constantes visitas.
Abraços carinhosos aos dois!
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