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Eram três irmãos:
Raimundo,
Mundo
e Mundinho
Encontrei-os ao pé da estrada
Descalços e empoeirados
- Bom dia, meninos!
- Dia- responderam-me os três.
- Conhecem a região?
- Éssaqui?
- É... que lugar é este?
- É o Azarão... A gente mora lá imbaxo.
- E vocês sabem onde fica a cidade mais próxima?
- Longe...
- E por esta estrada se chega lá?
- Eu não.- adiantou-se Mundo, o mais risonho e falastrão, de caracoizinhos por cabelo.
- Chega sim sinhô, larga mão de sê tonto, Mundo, que o moço num tá perguntano d'ocê.
- Que é isso, não tem problema! Vocês nunca foram até a cidade?
- Eu já- orgulhou-se o mais velho. Chamava-se Raimundo.- O Mundo é que num foi.
- Eu quase fui- retomou Mundo, frisando o "quase" em sua defesa.
- Como, quase?- perguntei achando graça.
- É qui a gente ia ino, o Raimundo, eu, o Mundinho e mais a mãe. Só qui ela ficô duente...
- E agora está melhor?
- Quem?
- A mãe de vocês.
- Ah, ela? Ela morreu. Gripô feio e num tinha remeudio. Depois o pai levô el'imbora pro lugar dos morto.
- Sei. E ele está por aqui?
- Não, foi viajá cá charrete e as coisa da mãe...
- Mas vocês ficaram sozinhos, então?
- A gente si tem, ingual a mãe mandô: anda sempre junto e cuida um do outro. Qui nem depois quano o Mundinho fico cu'a gripe... A gente cuidô dele.
- Que bom você sarou, não é Mundinho?- perguntei voltando-me ao menorzinho, que se mostrara menos comunicativo.
- Di que o sinhô tá falano?- quis saber o mais velho, olhando-me desconfiado.
- Como assim, Raimundo?
- É qui o Mundinho morreu.
(escrito em junho/08)
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