*
Ela devia ter uns trinta e cinco, quarenta e poucos anos. Ninguém suspeitava de nada, na ocasião.
- Mentira! São todos mentirosos!- gritou ela do telhado da mansão de três andares.
- Desce daí, Silvia, que os vizinhos vão chamar a polícia.
Ela deu de ombros. Pois que viesse o exército! Estava cansada! Fingir um sorriso no rosto só por educação. Às favas com os modos! E ele! Nem emoção soltava na voz quando chamava o nome dela? Pois que viessem todos! A imprensa, o grupo de elite, o mundo inteiro! Aquela noite, Silvia queria confusão.
Nunca antes fora assim, sabe, é bom que se faça este parênteses, Silvia crescera sob todas as regras de bom parecer. Comportava-se como uma dama, estudara, sabia três idiomas e era respeitada no meio profissional. Mas acima de tudo, como tinha um marido fiel. Abandonou a carreira por esse homem ao descobrir que a empregada não dava a devida atenção às camisas do esposo. Naturalmente se deixa um emprego sem sentido, quando mais vale um marido fiel. O marido dissera que um filho atrapalharia a liberdade do casal, e, para ser boa companheira, Silvia se esqueceu do sonho de ser mãe, atropelou a criança em seu coração. Mas tinha um marido fiel e repetia isso para todas as amigas. Quando brigavam, porque Silvia teimava fazer birra de mulher mimada, era só ele derreter um silvinha, e ela calava a bagunça no peito, para ouvir o maridão, afinal, não existia outro igual de tão fiel.
Certa feita, porém, um telefonema anônimo descobrira para Silvia as amantes do marido, todas assim, de uma vez. Da família dele, uma prima; do escritório, a secretária; da academia, a professora de alongamento; até do futebol, tinha uma tal que cuidava das chaves do vestiário, vulgo Marcão, para ela não desconfiar.Quanto clichê, de repente, para a Silvia lidar em sua desilusão.
O carro de bombeiros chegou acompanhado da rede de tevê local. Ao vivo transmitiram a história triste da mulher histérica e desregulada que tentava se matar. Um psiquiatra foi chamado para explicar ao espectador algo sobre os devastadores efeitos da depressão e do estresse, mas veio do marido a melhor declaração:
- Deseja dizer algo a sua esposa? O capitão deu a ela um celular para ela conversar com o senhor- disse o repórter estendendo-lhe um aparelho móvel.
- Desce daí, olha só que vergonha! Deixa de drama, Silvia, que você vai me estragar o telhado...
Só então Silvia notou que o telhado sobre sua vida era feito de vidro. E sorriu lá de cima, reconhecendo os cacos irreconciliáveis. Eram ela: olhos, sonhos, coração... eram ela os pedaços espalhados pelo chão...
- Mentira! São todos mentirosos!- gritou ela do telhado da mansão de três andares.
- Desce daí, Silvia, que os vizinhos vão chamar a polícia.
Ela deu de ombros. Pois que viesse o exército! Estava cansada! Fingir um sorriso no rosto só por educação. Às favas com os modos! E ele! Nem emoção soltava na voz quando chamava o nome dela? Pois que viessem todos! A imprensa, o grupo de elite, o mundo inteiro! Aquela noite, Silvia queria confusão.
Nunca antes fora assim, sabe, é bom que se faça este parênteses, Silvia crescera sob todas as regras de bom parecer. Comportava-se como uma dama, estudara, sabia três idiomas e era respeitada no meio profissional. Mas acima de tudo, como tinha um marido fiel. Abandonou a carreira por esse homem ao descobrir que a empregada não dava a devida atenção às camisas do esposo. Naturalmente se deixa um emprego sem sentido, quando mais vale um marido fiel. O marido dissera que um filho atrapalharia a liberdade do casal, e, para ser boa companheira, Silvia se esqueceu do sonho de ser mãe, atropelou a criança em seu coração. Mas tinha um marido fiel e repetia isso para todas as amigas. Quando brigavam, porque Silvia teimava fazer birra de mulher mimada, era só ele derreter um silvinha, e ela calava a bagunça no peito, para ouvir o maridão, afinal, não existia outro igual de tão fiel.
Certa feita, porém, um telefonema anônimo descobrira para Silvia as amantes do marido, todas assim, de uma vez. Da família dele, uma prima; do escritório, a secretária; da academia, a professora de alongamento; até do futebol, tinha uma tal que cuidava das chaves do vestiário, vulgo Marcão, para ela não desconfiar.Quanto clichê, de repente, para a Silvia lidar em sua desilusão.
O carro de bombeiros chegou acompanhado da rede de tevê local. Ao vivo transmitiram a história triste da mulher histérica e desregulada que tentava se matar. Um psiquiatra foi chamado para explicar ao espectador algo sobre os devastadores efeitos da depressão e do estresse, mas veio do marido a melhor declaração:
- Deseja dizer algo a sua esposa? O capitão deu a ela um celular para ela conversar com o senhor- disse o repórter estendendo-lhe um aparelho móvel.
- Desce daí, olha só que vergonha! Deixa de drama, Silvia, que você vai me estragar o telhado...
Só então Silvia notou que o telhado sobre sua vida era feito de vidro. E sorriu lá de cima, reconhecendo os cacos irreconciliáveis. Eram ela: olhos, sonhos, coração... eram ela os pedaços espalhados pelo chão...
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário