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(este é o novo capítulo de Longe, através do véu)
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Capítulo 2- Longe, através das paredes
Ao acordar, o Pepe ouviu barulhos na cozinha e latiu para eu abrir a porta do quarto. Também fui investigar o que era e encontrei mamãe servindo a mesa para o café da manhã. Ela sorriu e me perguntou como tinha dormido. Respondi que bem, enquanto pegava uma torrada quentinha e olhava em volta, procurando pelo maníaco. Será que maníaco e louco eram iguais? O Diego achava que sim, depois de ouvir o pai comentando uma notícia de jornal. É, filho, o mundo está cheio de maníacos, gente louca! Claro, os olhos do Diego brilharam! Ele tinha mais informações sobre meu tio do que eu, sobretudo porque minha mãe nunca me falara dele, só quando precisou ir buscá-lo no hospital de louco. Hospital de louco! Não fale assim, Léo, seu tio pode te ouvir.
Lá estava a estátua da família, sentada no sofá como quem fica no alto de uma montanha, admirando a paisagem. Parecia tão inofensivo, meu doido de cera, que peguei um copo com leite e outra torrada e me sentei na frente dele.
Algumas vezes eu também olhava para trás, só para conferir, pois sentia ele olhando além das paredes de casa, como se houvesse mais, algo que só os loucos conseguem entender. Mamãe ia o quê? Sair? Mas e eu? Fique aqui bonzinho e cuide do seu tio, que eu não demoro. Mas e... se ele der uma de doido? Não houve resposta. Mamãe só me beijou e sorriu de um jeito triste, tanto que meu deu muita pena dela e até do tio, coitado, ele não pediu para estar assim, doente... Doente, isso eu entendia. Também ficava doente algumas vezes e quem fica não gosta de ficar, mas minha mãe cuidava de mim. E ele? Eu teria que cuidar dele? Mãe, volta logo, mãe...
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