sábado, 12 de janeiro de 2013

Carta a Thomas Hardy

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Caro Sr. Thomas Hardy,


Quero dizer que agora entendo, mas previamente questionei seu caráter, sua sanidade e seus motivos ao ter criado tão inocente e doce menina a quem não teve piedade de arruinar com crueldade inimaginável.


O senhor lhe deu um pai ganancioso, porém miserável. Não conheço combinação pior para se destruir a própria felicidade e a dos outros. Mas Tess ia sobrevivendo ao pai, até que o senhor a deixou ao alcance de outro homem, muito mais egoísta e vaidoso, prenúncio óbvio da tragédia que se seguiu.

Achei justo quando Tess abandonou a casa onde cresceu, e acreditei que ela seria feliz junto ao bondoso Angel, no instante em que seus caminhos coincidiram tão harmoniosamente. Mas diferentemente do presente e do amanhã, só o passado existe para todos, irremediavelmente, assim como os grandes algozes, a solidão e a morte. E o senhor a fez desejar o beijo do amor apenas para atirá-la aos dentes vorazes da vergonha e do abandono mais uma vez.


Só então, quando eu já me convencia de que o senhor não tinha mesmo um coração, pude compreender os caminhos tortuosos pelos quais sua menina precisou passar. Foi com indescritível satisfação que vi Tess finalmente ser tocada pelo Anjo do amor, o amor sublimado e perfeito. Seu Angel regressara enfim.


Nada mais do que se passou a Tess e Angel importou depois daquelas linhas em que consumaram os votos sagrados que haviam trocado quando ainda existia juventude em suas almas. Nada mais importou, e as lágrimas valiam a pena, porque o senhor purificava o Amor e nos presenteava com um dos mais belos romances da literatura inglesa, a história de Tess dos D'urbervilles. 
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