*
Caro Sr. Thomas Hardy,
Quero dizer que agora
entendo, mas previamente questionei seu caráter, sua sanidade e seus
motivos ao ter criado tão inocente e doce menina a quem não teve piedade
de arruinar com crueldade inimaginável.
O senhor lhe deu um
pai ganancioso, porém miserável. Não conheço combinação pior para se
destruir a própria felicidade e a dos outros. Mas Tess ia sobrevivendo
ao pai, até que o senhor a deixou ao alcance de outro homem, muito mais
egoísta e vaidoso, prenúncio óbvio da tragédia que se seguiu.
Achei justo quando Tess abandonou a casa onde cresceu, e acreditei que ela seria feliz junto ao bondoso Angel, no instante em que seus caminhos coincidiram tão harmoniosamente. Mas diferentemente do presente e do amanhã, só o passado existe para todos, irremediavelmente, assim como os grandes algozes, a solidão e a morte. E o senhor a fez desejar o beijo do amor apenas para atirá-la aos dentes vorazes da vergonha e do abandono mais uma vez.
Só então, quando eu já me convencia de que o senhor não tinha mesmo um coração, pude compreender os caminhos tortuosos pelos quais sua menina precisou passar. Foi com indescritível satisfação que vi Tess finalmente ser tocada pelo Anjo do amor, o amor sublimado e perfeito. Seu Angel regressara enfim.
Nada mais do que se
passou a Tess e Angel importou depois daquelas linhas em que consumaram
os votos sagrados que haviam trocado quando ainda existia juventude em
suas almas. Nada mais importou, e as lágrimas valiam a pena, porque o
senhor purificava o Amor e nos presenteava com um dos mais belos
romances da literatura inglesa, a história de Tess dos D'urbervilles.
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário