sexta-feira, 10 de abril de 2009

Os tímidos também publicam- o plano de vôo de uma escritora acanhada


Esta é uma obra de muita, muita, muita ficção.
Qualquer semelhança com a vida real terá sido mera coincidência.


Conheça a autora:
- Olga é escritora há apenas alguns meses, embora venha rabiscando coisas ininteligíveis há muito tempo.
- Tem 0 (zero!) livros publicados!
- 0 (zero!) livros concluídos ou engavetados!
- 0 (zero!) ideias para projetos futuros e nenhuma, mas nenhuma mesmo! noção do estilo próprio, embora queira como dizem os espanhóis "estar al plato y a las tajadas"[1]
- Apesar de não ter vocação para pistoleira (em qualquer acepção da palavra), disparou seus tirinhos, todos eles saídos pela culatra, como a participação em um Concurso Cultural, que não ganhou, não previa retorno de nenhum tipo aos participantes e, se querem saber, não valeu nem como experiência, porque até hoje a história criada especialmente para o concurso é motivo de trauma para a autora. Todavia, essa corajosa e sonhadora criatura se dispôs a pensar um "plano de carreira" e para isso contará com sua inabalável fé na sorte, na oportunidade do que cedo madruga e na Fada Azul.

Prólogo
Querido diário, hoje a professora Marisa me disse que tenho de pensar num plano para a decolagem de minha carreira como escritora. Logo eu, diário, que tenho tanto medo de voar... Confesso ter ficado muito feliz ao ver a cara de alguns colegas, igualmente acanhadinhos, imaginando tantos procedimentos de vôo sem nem termos conhecimento do tipo de aeronave ( se asa delta, se jumbo) que conseguiremos pilotar.


Perfil da Comandanta Olga: mulher, muitos anos de vida, voante-autora de primeira viagem.
Destino: ser uma escritora mundialmente famosa e particularmente realizada.


"Atenção, senhores passageiros, sejam bem-vindos. Em caso de percalços, críticas ácidas cairão sobre suas cabeças, respirem normalmente e lembrem-se de que sempre existirão coisas piores que sua humilhação pública e total ruína literária ... Se os senhores tiverem um agente literário, melhor ainda: é sobre a cabeça dele que as coisas vão desabar."


A viagem
Olga acaba de embarcar com 3 maravilhosos livros na bagagem! Nenhum foi escrito por ela, adquiriu-os no aeroporto para se distrair no percurso dirigido pelo piloto automático. [2]

O que ninguém sabe (ou sabia, até agora) é que a comandanta também trouxe consigo um livro de autoria dela, já devidamente registrado na Biblioteca Nacional. Olga tinha um plano... um plano de carreira.

O livro - Com aproximadamente 80 folhas A-4, digitadas em fonte Times New Roman-11, espaço 1,5, o livro terá, quando montado, 150 páginas, para conseguir competir no árduo mercado editorial onde centenas de livros e milhares de escritores são produzidos todos os dias. A história, um drama-fantástico, nasceu para concorrer com títulos da altura de "O Senhor dos Anéis", "As Crônicas de Nárnia", etc.. Infelizmente nem sempre os filhos são aquilo com que sonham os pais...


Plano de vôo

Primeira Conexão: Contatos! A autora escreve regularmente em seu blog, frequenta eventos, oficinas, cursos, lançamentos de livros de literatura fantástica, de ficção e, ultimamente, de auto-ajuda ("O Poder do Pensamento Positivo- Se Lula chegou à presidência, eu chegarei à lista dos mais vendidos da Veja", "O autor no topo- 100 maneiras de subir na cadeia-alimentar editorial", "Crítico-literário: perdoando esse invejoso", "Aprendendo a puxar saco, um guia completo de como bajular: do editor ao leitor", "Meditações para não enlouquecer seu agente literário", "Agente literário- você também é humano!", "Diplomacia Literária- como não perder a sua", "O Autor e os Cuidados na Hora do Contrato- Atingindo o Ponto G, bom para a editora, melhor para você!".) A autora foi ampliando sua lista de contatos, observou o mercado, as tendências, recolheu conselhos de livreiros, ameaçou conhecidos para que lessem seus rascunhos e opinassem sinceramente sobre eles, enfim, muniu-se de lições e pareceres valiosos e seguiu em frente, para a próxima conexão.


Segunda Conexão: Utilizando-se de alguns daqueles contatos, a autora publicou contos em periódicos brasileiros como o "Gazeta de Fundão", do ES, e "O Diário de Coxixola", da PB e foi, aos poucos, tornando seu nome conhecido. O blog passou a ser mais visitado.


Destino Final, ou A Grande Viajada: Sem convite de editoras, a autora lança seu livro, bancando os exemplares, pela editora Lumus. A partir daí, livreiros, jornalistas, e todos os principais formadores de opinião passam a receber exemplares do livro, que viram bem-sucedidos pesos de papel, arrimos de portas e suportes para copos e garrafas. Entretanto, numa noite de chuva, um desses entediados destinatários decide abrir o livro empurrado de presente [3] por "aquela louca lá na porta da rádio", apaixona-se pela história, fala sobre ela a um editor bambambã, que fecha um contrato milionário com a autora. Atualmente ela discute com Steven Spielberg os direitos da obra para um filme a ser protagonizado por George Clooney. A negociação está empacada porque a autora quer incluir uma cláusula para formar, ela mesma, par romântico com o galã. [4]

Notas de rodapé: [1] Correspondente popular brasileiro: "assobiar e chupar cana", que, num sentido literário, não teria sentido nenhum se pensarmos bem... [2]Um novo modelo alemão, muito chato e com sotaque infernal, que insiste defender a receita do apfelstrudel original, repetindo cansativamente que os austríacos roubaram a receita de um de seus antepassados alemães e registraram em Viena os direitos autorais do famigerado pastel de massa folhada. "Um absurrrrrda!". [3] A biblioteca da cidade de Tróia abriga extensa bibliografia sobre como lidar com esse tipo de oferenda. [4] A agente literária da autora está sob prescrição de calmantes fortíssimos enquanto durarem as negociações.

*

6 comentários:

Claudia disse...

AMEI!!!! Amei seu projeto, Olga. Além do mais, seu TCT está pronto. Ei-lo.
Beijos.

Olga disse...

Clau, obrigada por seu comentário! E idéia! Sabe que não tinha pensado nisso, usar meu plano de vôo como TCT! É uma possibilidade! Obrigada pela visita!

Petê Rissatti disse...

Olguinha,

Ficou fantástico, ri à solta aqui no escritório. Acho que você deveria apostar nessa veia lítero-cômica, acho que dá certo. Esse humor fino e desconcertante é o que falta na nossa literatura, na minha opinião.

Beijos

Olga disse...

Petê, você por aqui é uma alegria, e uma honra. Obrigada pelo incentivão. Beijos e saudades!

Bruno Cobbi disse...

A expressão "assoviar e chupar cana" só faz sentido quando vc tenta imaginar um sujeito tentando fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

Sua modéstia em irrita, Olga. E olha que sou seu fã.

bjo

Laura Fuentes disse...

Concordo com o Petê, adorável essa sua veia litero-cômica que só agora nos revela. Li, reli, e ri muito com seu plano de bordo.
Confessa: não é uma libertação? rs