Dance in the City, Renoir
O primeiro ano transcorreu semelhantemente ao tempo em que se enamoraram. Mas quando a vida de casados deixou de ser novidade, Lyhne não pôde mais esconder de si mesmo a falta que sentia de expressar distintamente o amor. Ele se cansara de lustrar a plumagem do romance... Nunca concebera o amor qual uma chama inquieta e eternamente desperta, que marca sua força, espalha sua luz em cada recanto da existência. O amor para ele era mais como o brilho do carvão no leito de cinzas...
Bartholine não era mais inexperiente quanto aos livros ou à vida. Conhecia-os tão bem quanto ao marido.
Ele lhe dera tudo o que possuía- e agora queria continuar distribuindo. Era impossível; ele não tinha mais nada a oferecer.
Havia um único consolo: Bartholine esperava um filho.
Isso fez com que ela perseguisse o amor ainda mais ardentemente... Por um tempo tentou fazer com que Lyhne a acompanhasse, a despeito da resistência dele; recusava-se a aceitar aquilo de que já suspeitava; mas quando, finalmente, o fracasso de seus esforços fê-la duvidar se sua própria mente e coração realmente haviam possuído todos os tesouros que ela imaginara, subitamente ela o abandonou, tornou-se fria, silenciosa, reservada e com frequência se afastava para lamentar as ilusões perdidas.
Assim estavam as coisas entre marido e mulher quando Bertholine deu à luz. Era um menino, e eles o chamaram Niels.
(Niels Lyhne, de Jacobsen- tradução inteiramente livre e despretensiosa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário