sexta-feira, 10 de julho de 2009

Memória em verso...



*


John William Waterhouse- The awakening of Adonis
" [...]

Mi leña, mi hogar,
mi techo, mi lar,
mi nobleza.
Mi fuente, mi sed,
mi barco, mi red
y la arena.
Donde te sentí
donde te escribí
mi poema."

Serrat
*

“O que aconteceu? A vida, e fiquei velho.”
Louis Aragon (in Um toque na estrela, GROULT, Benoit)

*

Mas tudo isso eu vou dizendo
para você ficar sabendo,
compreendendo melhor... enfim...

Veja: estou quase chorando
E nada existe para mim,
Senão o olhar que estou olhando...

Paul Géraldy

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" O homem não se esconde de si mesmo, e o maior infortúnio dos corações covardes é sentirem que o são..." Machado de Assis. in Ressurreição.


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Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada vires, abatida e turva
Tremer a alvura dos cabelos meus,

Irás pensando, pelo teu caminho
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!

Guilherme de Almeida


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Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
[...]
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

*

[...]
Assim como o oceano
Só é belo com o luar
Assim, como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor
Não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você.

Vinicius de Moraes

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Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!


Gonçalves Dias

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Mas que tens?
Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!
[...]
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!
(idem)


*

Choraste?! - E a face mimosa
Perdeu as cores da rosa
E o seio todo tremeu?!
Choraste, pomba adorada?
E a lágrima cristalina
Banhou-te a face divina
E a bela fronte inspirada
Pálida e triste pendeu?!

[...]
Perdão! se fui desvairado
Manchar-te a flor d'inocência
E do meu canto n'ardência
Ferir-te no coração!
- Será enorme o pecado,
Mas tremenda a expiação
Se me deres por sentença
Da tua alma a indiferença,
Do teu lábio a maldição!...
........................
Perdão, senhora!... Perdão!...

Casimiro de Abreu


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Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
- "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela - eu moço; tens amor, eu - medo...

Idem

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Deixai-me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro;
Se a vida deploro,
Também sei morrer.

G. Dias
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Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
[...]

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...

Florbela Espanca

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Que habrá después de ti?
más que estas lágrimas
si hasta la lluvia en el jardin
toca música sin fin...
sombria y trágica...
(in Closer, Josh Groban)
*

[...]

Starry starry night, flaming flowers that brightly blaze
Swirling clouds in violet haze reflect in Vincent's eyes of china blue
Colors changing hue, morning fields of amber grain
Weathered faces lined in pain are soothed beneath the artist's loving hand

Now I understand what you tried to say to me
How you suffered for you sanity
How you tried to set them free
They would not listen they did not know how, perhaps they'll listen now

For they could not love you, but still your love was true
And when no hope was left in sight, on that starry starry night
You took your life as lovers often do,
But I could have told you, Vincent,
This world was never meant for one as beautiful as you

[...]

Don McLean (para Vincet Van Gogh)

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