sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Geração Crepúsculo

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Pelos corredores do colégio onde trabalho me deparei com diversos alunos lendo um romance pelo qual se declaravam apaixonados: Crepúsculo, de Stephenie Meyer. O livro parece ter conquistado os jovens corações de uma geração pouco afeita à prática da leitura. Vi-os agarrados às páginas, acompanhando a trama com tamanha emoção, que não podiam deixar de recomendar o título a outros colegas e a mim mesma. "Professora, você já leu? Precisa ler! É demais!..."


Comprei. Precisava ler! Como aspirante a escritora precisava ler, como professora de jovens e acanhados leitores, precisava ler. Queria saber o que os cativara tanto. Não foi necessário ir muito além das primeiras linhas para descobrir.


Há a fórmula mágica da identificação. Os adolescentes se identificam com os personagens, estudantes como eles, aborrecidos com as obrigações do colégio, mas ansiosos por contato social. A escola passou a ser o local mais seguro para encontrar outros de sua faixa etária e estabelecer uma relação saudável de amizade, paquera, troca de experiências, etc. A protagonista não é um modelo de beleza, é uma garota normal, como 99,9% das meninas de hoje e sempre, mas tem, como todas, seu quinhão de atrativos. É inteligente, observadora e divide com os leitores uma visão entediada e melancólica da vida, talvez fruto da separação dos pais, da ausência de intimidade com os mesmos, talvez de sua própria condição de adolescente introspectiva numa sociedade que evita o diálogo aberto e franco. Mas, porque a aventura e o amor são ingredientes ansiados pelo ser humano para alcançar a alegria de viver, a protagonista se achará súbita e completamente enamorada por um misterioso colega de classe e envolvida em uma série de aventuras e suspenses de tirar o fôlego.


Lido através dos olhos de meus alunos, Crepúsculo é sensacional. Não me atreveria a ler de outra forma. A história é o que tem de ser e atinge em cheio o público ao qual se destina, instigando-os a sonhar, a sentir, a falar de algo além de programas de televisão e Orkut, embora numa pesquisa superficial tenha encontrado mais de 460 comunidades orkuteiras voltadas para a obra de Meyer e sua recente adaptação para o cinema.


Não façamos análises profundas da qualidade literária da autora americana, isso perde a importância diante do fato de que o livro está cumprindo seu papel e levando nossos jovens à livraria, em busca não só de Crepúsculo, como também de O Morro dos Ventos Uivantes, título citado no livro e que está sendo comentado por tabela, além claro, dos próximos volumes da série de Meyer, um deles já lançado (Lua Nova) e o inédito Eclipse, que promete sair em 27 dias, segundo o site da Editora Intrínseca (com direito a contagem regressiva!). Nota 10 para Crepúsculo, que encontrou o caminho para mostrar ao jovem que a literatura pode não ser tão chata quanto ele desconfiava e ainda revelou um grato leitor onde antes havia, quando muito, um viciado em games e internet.

4 comentários:

Petê Rissatti disse...

Oi Olga,

É muito legal ter essa visão sua do mundo adolescente e hoje consumidor. E saber que a tal Meyer está os levando para grandes obras, como a da Emily Brönte.

Olga disse...

Petê, querido, fico feliz de você ter gostado de meus comentários. Confesso enorme prazer também em saber que mencionar O Morro dos Ventos... diante de meus alunos não os deixa mais com aquela cara de "que é que ela disse?". Agora, pelo menos eles sabem que é o título de um romance inglês e mais, têm curiosidade suficiente para irem à biblioteca atrás do livro. Obrigada também por sua visita! Besitos,
Olga.

Claudia disse...

Oi, Olga.
Gostei muito do seu comentário e concordo com seu ponto de vista. O livro é muito adequado ao que se propõe e um modo de alcançar o público jovem da pós-modernidade. Não será oferecendo, inicialmente, leitura barroca que surgirão novos leitores.
Um beijo.

Laura Fuentes disse...

Concordo total contigo e com o Petê. O importante é fazer essa moçada ler, se identificar com personagens normais, assim como todos nós. Quem sabe um dia eles ousem mais, né?
PS: Este seria um bom post para o Movimento Livro nas Mãos, não acha?