de Adélia Prado
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Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o cachorro
e atiro os restos.
Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do meu estômago humilde
e fortíssima voz pra cânticos de festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado, para chorar, chorar, e chorar,
requintada e esquisita como uma dama
*
***
*
Não sou bela, estátua romana, donzela
sou mulher e ponto.
sou mulher e ponto.
Nunca fui santa,
sou crua, estou pronta.
Pago minhas contas e cobro.
Não entro em igreja com manto escarlate,
mas visto meu corpo de branco, como quem casa.
Quando nascer de novo,
se me deixarem escolher a forma,
vou querer ser poema de amor
sou crua, estou pronta.
Pago minhas contas e cobro.
Não entro em igreja com manto escarlate,
mas visto meu corpo de branco, como quem casa.
Quando nascer de novo,
se me deixarem escolher a forma,
vou querer ser poema de amor
em versos de Adélia.
*
Olga Vallejo
Um comentário:
Voltar diferente como poesia? Como, se você já é pura poesia, Olga! E poesia de mulher.
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