- Se eu estivesse no céu, Nelly, seria extremamente infeliz.
- Porque você não é digna de ir para lá. Todos os pecadores seriam infelizes no céu.
- Mas não é por isso. Sonhei uma vez que estava lá.
- Já lhe disse que não quero ouvir seus sonhos, Srta. Catherine[...]
- .[...] Ia só dizer que o céu não me pareceu minha verdadeira residência. Dilacerava o coração de tanto chorar no desejo de voltar para a terra e os anjos ficaram tão aborrecidos com isso, que me precipitaram no meio da charneca, no alto de O Morro dos Ventos Uivantes, onde despertei, chorando de alegria [...] Não me interessa casar com Edgar Linton, como não me interessava estar no céu. E se o sujeito perverso que aqui vive não houvesse degradado tanto Heathcliff, eu não teria pensado nisso. Agora me degradaria eu mesma, se casasse com Heathcliff. Assim ele nunca saberá como eu o amo. E isso não porque seja belo, Nelly, mas porque ele é mais eu do que eu mesma. Seja de que forem feitas nossas almas, a dele e a minha são as mesmas e a de Linton é tão diferente como um raio de lua de um clarão, ou como a geada do fogo. (Capítulo IX)
- Você me fez ver como foi cruel- cruel e falsa. Por que me despreza? Por que traiu seu coração, Cathy? Não tenho uma só palavra de conforto. Você merece isto. Você se matou. Sim, pode me beijar e chorar, e os beijos e as lágrimas que me arrancar à força lhe trarão a ruína- eles lhe trarão maldição. Você me amava, então que direito tinha de me abandonar? Que direito- responda-me- de cismar com Linton? Já que a mágoa, a degradação, a morte e nada que Deus e Satanás quisessem nos infligir poderiam nos separar, você, espontaneamente, o fez. Não parti seu coração- você mesma o partiu e, ao parti-lo, partiu também o meu. Tanto pior para você que eu seja forte. Se eu quero viver? Que tipo de vida eu levaria, quando você...- Oh, meu Deus- quem gostaria de viver com a alma na sepultura? (Capítulo XV)
***
- Como morreu ela?- conseguiu ele afinal dizer...
- Suavemente[...]
- Que ela desperte em meio dos tormentos- gritou ele com terrível veemência.[...] E eu, eu rezo uma oração... hei de repeti-la até que minha língua se entorpeça... Catherine Earnshaw, que tu não possas encontrar sossego enquanto eu tiver vida![...] Sei que fantasmas têm vagado pela terra. Fica sempre comigo... encarna-te em qualquer forma... torna-me louco! Só não quero que me deixes neste abismo onde não te posso encontrar! Oh, Deus! é inexprimível! Não posso viver sem a minha vida! Não posso vier sem a minha alma! (Capítulo XVI)
(O Morro dos Ventos Uivantes- Emily Brontë, 1818-1848)
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